20 de Novembro: A luta que ecoa no presente
Como as histórias dos antepassados se conectam com os dias atuais
“A nossa escrevivência não pode ser lida como história de ninar os da casa-grande, e sim para incomodá-los em seus sonos injustos”, já dizia a grande linguista e escritora brasileira Conceição Evaristo.
Pela primeira vez em 2024, o Dia da Consciência Negra será celebrado como um feriado nacional, e a citação de Evaristo trás uma reflexão precisa sobre o assunto. Em todos os anos, exaltamos as histórias do povo preto que por décadas lutou bravamente contra um sistema que era (e continua sendo) contra a sua existência. Mas nos habituamos a enxergar essas histórias somente no passado, como se a luta travada há séculos atrás não fizesse mais parte dos dias atuais.
Como se as histórias de guerreiros como Zumbi dos Palmares em nada se tivesse a ver com a luta dos Quilombos baianos que travam uma batalha desde 1990 pelo reconhecimento de sua identidade étnica e pela demarcação de seu território tradicional, ou como se as barbaridades sofridas por pessoas escravizadas nas casas-grandes, fizessem parte de uma realidade distante que não pudessem ser comparadas ao caso da babá que pulou do 3º andar de um prédio de Salvador para fugir do cárcere privado cometido pela patroa em 2021.
No período escravocrata, pessoas brancas viam os negros como mercadoria e a escravidão era tida apenas como uma relação social e econômica de produção. Nos dias atuais, os pretos seguem batendo de frente com esse mesmo racismo para encarar um mercado de trabalho desafiador, que diariamente obriga o povo negro a renegar sua identidade para se encaixar num padrão social aceitável em troca de um salário no fim do mês.
As histórias gravadas nas literaturas e vividas pelos ancestrais são registros importantes que nos permite lembrar diariamente que a luta continua. É preciso reconhecer os avanços importantes que só foram possíveis porque houve quem lutasse pela liberdade quando ela ainda era uma possibilidade quase irreal, mas muito além disso, o 20 de novembro é uma marca gravada em cada negro que nos lembra diariamente que a batalha não acabou.