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Laís Lopes 27 de Junho, 2025
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Ex-radialista baiano deixa Salvador para integrar batalhão de defesa na guerra contra a Rússia

Bahia
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Laís Lopes 27 de Junho, 2025

Big Jhon, agora conhecido como Arcanjo, saiu de Cajazeiras para se especializar em pilotagem de drones de combate

Aos 31 anos, o baiano e ex-radialista conhecido como Big Jhon, decidiu deixar Salvador para enfrentar o que descreve como o maior desafio da sua vida. Morador de Cajazeiras, ele deixou a rotina na capital baiana para integrar o batalhão de defesa territorial da Ucrânia e enfrentar a Rússia.

Hoje, por questões de segurança, ele atende apenas pelo nome de Arcanjo, medida considerada essencial entre os soldados para proteger a si mesmo e os companheiros.
A chegada à Ucrânia foi marcada por uma viagem exaustiva que durou mais de 18 horas.

“Foi um mix de sensações. Saímos de Salvador para São Paulo, de lá para Portugal, depois para Polônia. Na Polônia já não era mais avião, era ônibus. Foram 18 horas direto até Kiev. Cruzamos o oceano e ainda encaramos uma longa viagem de ônibus. Foi muito cansativo.”

O choque emocional veio logo depois. Assim que entrou no território ucraniano, o baiano percebeu que o que se via pela televisão estava longe de traduzir a realidade da guerra.

“Quando a gente chega aqui, a sensação é pesada. O que você vê na TV são imagens frias. Aqui, você sente com o coração. Cemitérios e mais cemitérios. Memoriais e mais memoriais. Tem os cemitérios para os corpos encontrados e os memoriais para os que nunca foram localizados. Você já dá de cara com a morte. É um choque imediato”, relata.

Apesar da triste realidade de um país em guerra, Arcanjo contou que foi bem recepcionado pela população local, que considera os soldados como verdadeiros heróis.

“As pessoas identificam de longe que somos soldados vindos de fora para ajudar. Aqui, somos tratados como heróis. As pessoas nos cumprimentam nas ruas, vibram com nossa presença. É bem diferente do Brasil, onde muitas vezes o militar é visto como pintor de meio-fio ou faxineiro. Aqui, todos os dias somos soldados.”, disse.

Mesmo com os treinamentos e as orientações de segurança, a realidade de viver em uma zona de guerra se impõe de forma brutal. Arcanjo descreve um país que tenta manter a aparência de normalidade, mas que carrega cicatrizes visíveis e invisíveis.

“É uma aparente ilusão de que as coisas estão normais. As pessoas andam pelas ruas, trabalham, tentam viver suas vidas, mas basta olhar no rosto delas para ver o peso da guerra. Todo mundo perdeu alguém, perdeu a casa, perdeu o sossego”.

Ainda de acordo com ele, as noites são carregadas de tensão por conta dos bombardeios.

“Toda noite os alarmes tocam. Temos um mapa que indica onde os mísseis e drones inimigos vão atingir. Isso nos dá tempo para tentar se abrigar, mas o clima de tensão é constante. Bombardeios acontecem diariamente. É um jogo de sobrevivência.”

Atualmente o soldado faz parte de um Batalhão de Defesa Territorial e está em processo de especialização em engenharia de drones e pilotagem de drones kamikaze de combate, que é um treinamento específico para operar os drones que de ataque.

Por questões estratégicas, ele e seus companheiros não podem revelar localização, nem compartilhar detalhes sobre missões ou movimentações. Os familiares que permaneceram em Salvador também não sabem a localização exata de Arcanjo.

“Não podemos dizer onde estamos nem para a família. Existe uma guerra psicológica muito forte. Os russos criam perfis falsos nas redes, mandam mensagens dizendo que nós morremos, tentando desestabilizar emocionalmente os soldados e suas famílias. Por isso, apaguei todas as minhas fotos com familiares e evito ao máximo qualquer exposição.”

Com contrato inicial de 6 meses, o soldado revelou que não pretende voltar para casa e deseja permanecer no país. A decisão recebeu apoio da família, com quem mantém contato diariamente.

“A guerra aqui é real. Os bombardeios, os prédios destruídos, os buracos de artilharia, nada disso é ficção. Parece filme, mas é a vida real. E eu estou aqui, vivendo tudo isso de perto”.