
“Governo não está cuidando de quem cuida da gente”, diz presidente do Sindimed-BA

A presidente do Sindicato dos Médicos da Bahia (Sindimed-BA), Rita Virgínia Marques Ribeiro, falou nesta sexta-feira (15), sobre os atrasos salariais que afetam profissionais da rede própria da Sesab e a realidade de trabalho que ela classifica como “escravidão moderna” para a categoria. A declaração dada ao programa Se Ligue Bahia, ocorreu no mesmo dia em que médicos realizaram uma carreata em Salvador para cobrar soluções do governo estadual.
Segundo a dirigente, médicos de diversas unidades, como Hospital Geral do Estado (HGE), Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), Maternidades Albert Sabin e Tsylla Balbino e o Instituto de Perinatologia da Bahia (Iperba), estão enfrentando atrasos nos pagamentos.
O problema, conforme relatado, estaria ligado à demora da Sesab no repasse de recursos para empresas terceirizadas contratadas pelo governo.
“Foi unanimidade. Todas as unidades disseram que há atrasos nos repasses da Sesab para as empresas terceirizadas. Automaticamente, elas também atrasam o pagamento para os médicos”, afirmou Rita Virgínia.
A sindicalista criticou a falta de fiscalização sobre a aplicação dos recursos e citou casos em que profissionais não receberam salários, mesmo após a Sesab afirmar que havia efetuado o pagamento às empresas.
“Tem situações que não entra e fica um impasse. Por exemplo, com Manoel Vitorino, ex-secretário de Saúde, os médicos que trabalharam na pandemia não receberam. O governo diz que pagou, a empresa não pagou e ficou por isso mesmo até hoje. Se não fiscaliza, acontece isso. O médico não pode deixar de receber pelo mês que trabalhou”, ressaltou.
A presidente do Sindimed também relatou que a situação tem causado sobrecarga, adoecimento físico e mental, e até casos de suicídio na categoria.
“O que nós ouvimos diariamente dos colegas são situações de aflição. Muitos pegam outros plantões para compensar e acabam se desgastando, adoecendo, viajando de um município para outro. Às vezes, morrem na estrada por cansaço. É muito preocupante. O governo não está cuidando de quem cuida do paciente”, afirmou.
Outro ponto criticado foi a contratação de médicos sem vínculo formal, modelo que a sindicalista classificou como “epidemia” na Bahia. “É um absurdo. Torna o trabalho médico uma escravidão. O médico não tem direito a férias, décimo terceiro, licença médica ou maternidade. Trabalha como um animal, o tempo todo, sem parar”, disse.
Rita Virgínia ainda destacou a luta pela atualização do piso salarial da categoria, paralisado desde 1961. A proposta inicial de R$ 19 mil foi reduzida para R$ 12 mil para facilitar a aprovação, mas, segundo ela, ainda enfrenta resistência.
Além disso, a dirigente denunciou que recentemente 529 médicos tiveram seus contratos CLT trocados por vínculos PJ. O Sindimed tentou diálogo com a secretária de Saúde, Roberta Santana, mas, segundo Rita, as reuniões não resultaram em mudanças.
Durante o protesto desta sexta-feira (15), os médicos saíram de Ondina em direção à sede da Sesab, mas encontraram obstáculos. “Colocaram cones na frente, impedindo a entrada dos médicos. A secretaria é um bem público do povo para o povo, e os médicos foram impedidos de entrar”, criticou.
A presidente do Sindimed também alertou para a ausência de concurso público há 17 anos na saúde estadual e para a precarização generalizada das áreas médicas. “Daqui a pouco não vai ter condições de ninguém se aposentar. Hoje todas as especialidades estão em sofrimento. Os gestores colocam dedo em todas as áreas”, disse.
Os médicos chegaram a anunciar paralisação, mas a greve foi suspensa por decisão judicial. O sindicato, no entanto, apresentou uma proposta pública para o impasse envolvendo os 529 profissionais que perderam o vínculo CLT. “Como anunciado na limiar, já que o Governador diz manter um diálogo com a classe, embora desde o dia 24.07.25 nenhum contato com o Sindimed foi feito pela Sesab, faremos aqui uma proposta pública e solicitamos uma resposta também pública. Que os 529 médicos que estao perdendo seus vinculos CLT assinem um contrato REDA provisório ou CLT com terceirizado, até que as licitações anunciadas aconteçam de fato”, disse o sindimed.