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Vittor Amorim 03 de Abril, 2025
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“Obra tem 30% concluídos, não 75%”, diz sindicalista ao criticar suspensão de obra da FIOL

Bahia
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Vittor Amorim 03 de Abril, 2025

A recente decisão da Bahia Mineração (Bamin) de rescindir o contrato com a Prumo Engenharia resultou na paralisação das obras do Trecho 1F da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL 1), no sul da Bahia. Como consequência, cerca de 300 trabalhadores foram demitidos. O trecho, que deveria conectar sete municípios e impulsionar a economia regional, agora enfrenta incertezas quanto à sua conclusão. 

Valdeli Rosa, diretor e secretário-geral em exercício do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada e Montagem Industrial do Estado da Bahia (Sintepav-BA), falou em entrevista ao Se Ligue Bahia, sobre a preocupação com a situação.

“Mais uma vez, é um impacto negativo economicamente para a região, é um impacto negativo na empregabilidade, é um impacto negativo para todos nós que acreditávamos que agora essa obra daria seguimento. Uma obra que é tão esperada desde o ano de 2011 que foi passada para a iniciativa privada, com incentivo do governo federal e que agora fica pelo meio do caminho simplesmente por conta de que a Bamin não tem um comprometimento naquilo que foi firmado anteriormente”, afirmou. 

O sindicalista criticou a falta de comprometimento da Bamin com os acordos previamente estabelecidos. “Nós lamentamos bastante que a infraestrutura foi penalizada, essa obra foi penalizada. Era a retomada desse sonho, esse sonho que já vem aí há alguns anos pelo meio do caminho”, lamenta Rosa. 

Com a demissão em massa, a região sofre com a perda de empregos e a estagnação da economia local. Segundo Rosa, os trabalhadores vinham alimentando esperanças com a retomada das obras, investindo em melhorias pessoais e familiares, como construção de casas e educação dos filhos.

“Mas além de tudo isso, o sustento desse trabalhador, esse trabalhador que passou tantos anos penalizado pela falta de investimento na parte de infraestrutura, no momento em que vem esse investimento na parte de infraestrutura, esse trabalhador ele pega e os sonhos dele são destroçados por conta de uma incompreensão do capital”, afirma Valdeli.

 

A crise financeira da Eurasian Resources Group (ERG), controladora da Bamin, é apontada como um dos principais fatores para a paralisação das obras. A empresa busca compradores para a mineradora, incluindo negociações com a Vale e o BNDES, mas sem definição até o momento.

A FIOL foi anunciada como uma das prioridades do Novo PAC, mas a paralisação levanta dúvidas sobre a viabilidade real do programa. “A gente precisa refletir melhor de que assim, a suspensão, da Bamin, no que toca nesse projeto, ele pode ser visto para nós como um reflexo das dificuldades e desafios reais de implementação de projetos de infraestrutura no Brasil. E isso pode nos revelar alguns pontos críticos, como a dependência de investimento privado e a incapacidade da Bamin de seguir com o projeto. Aí a gente vê um outro ponto, que é a complexidade da execução, já que não fica claro, pela Bamin, o real motivo da suspensão”, explicou Rosa.

Há divergências sobre o avanço da construção da ferrovia. “Na mídia está dizendo que a obra tem 75% concluídos, mas nós que conhecemos a realidade sabemos que esse trecho tem apenas 30% de conclusão”, contestou o sindicalista. 

Ele reforça concessões com o setor privado nem sempre se alinha com os interesses do governo. “Nós vamos para um outro ponto, que é a viabilidade política e econômica. Embora a intenção do Novo PAC seja impulsionar o crescimento econômico e regional, a realidade das concessões que traz investimento do governo federal nessas concessões, nos mostra que essa relação com o setor privado nem sempre se alinha com a expectativa do governo. O governo vai, investe o capital, mas agora precisa fazer uma PPP [ Parceria Público-Privada ] e nesse momento aí a parte privada não está colocando capital e não revela qual é a situação, que já que existia um cronograma para poder se terminar essa atividade, deixa a população sem saber o real motivo do que está acontecendo”, explica Rosa. 

Audiências públicas têm sido realizadas para discutir soluções para a FIOL, mas Rosa destaca que a participação popular pode garantir avanços. ” Acredito que com a força de toda a população, possamos ter um avanço, com certeza, de que essa obra, como a gente já teve no passado, a partir da manifestação popular, a gente tenha um retorno dessa obra e a gente conseguir avançar com ela”, afirma o sindicalista. 

Sobre a possibilidade de que a ferrovia se torne mais um “elefante branco”, Rosa acredita que a FIOL tem potencial econômico para ser concluída, dado o interesse da indústria mineradora e do agronegócio no escoamento de produção. 

“Então a gente vê que numa situação como essa, o que vai viabilizar? Ou é o destrato pelo governo federal dessa concessão e retomar para o governo federal, ou então com a venda da Bamin, um grupo que compre a Bamin e esteja interessado em dar andamento nesses projetos aí, que são projetos que vão fazer com que economicamente, para as várias regiões do estado da Bahia, possa alavancar com geração de emprego e renda. Então a gente vai sair do processo construtivo para um processo contínuo de escoamento de produção, geração de emprego em Porto Sul e geração de emprego nessas cadeias produtivas”, conclui Rosa.