Brasil perde cerca de 7 milhões de leitores em quatro anos, aponta pesquisa
A pesquisa entrevistou 5,5 mil pessoas em 208 municípios
Mais da metade da população brasileira, 53%, não leu nem mesmo parte de um livro nos últimos três meses. A informação é da 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada nesta terça-feira (19) pelo Instituto Pró-Livro (IPL). Este é o primeiro levantamento desde 2007 a registrar que a proporção de não-leitores ultrapassou a de leitores no país. Entre 2015 e 2020, mais de 7 milhões de leitores foram perdidos, o que representa um total de 11,3 milhões de pessoas a menos lendo desde 2015.
A pesquisa, que entrevistou 5,5 mil pessoas em 208 municípios, revela que a média de livros lidos pelos brasileiros diminuiu, caindo de 2,6 para 2,4 livros, com uma redução ainda mais acentuada (para 0,82) quando considerados apenas livros inteiros. O levantamento aponta também que 27% da população leu livros completos nos últimos três meses, um número significativamente menor do que os 53% que não leram sequer uma parte de livro, independentemente do formato.
A socióloga Zoara Failla, coordenadora da pesquisa, destaca a pandemia como um dos principais fatores para a queda nos índices de leitura. Ela aponta que o período de quarentena prejudicou a alfabetização e o letramento, especialmente entre os mais jovens, além de afetar a distribuição de livros. “As salas de aula deixaram de ser um espaço de leitura”, afirmou Failla.
Outro fator que contribui para o declínio é o aumento do tempo gasto com telas. A pesquisa revela que 87% dos leitores e 70% dos não-leitores passam parte de seu tempo livre na internet, um número crescente desde 2015. “As telas estão roubando o tempo dedicado à leitura”, observa Failla, enfatizando que a leitura se mantém mais frequente entre aqueles que já eram leitores, enquanto aqueles que antes não liam se afastaram ainda mais dos livros.
O desinteresse pela leitura também cresce com a idade. Entre crianças de 5 a 10 anos, 38% afirmam ler por prazer, mas esse índice cai drasticamente para 17% entre adultos com mais de 40 anos. Isso reflete uma perda de leitores potenciais, com o desinteresse começando a aumentar a partir dos 14 anos.
No entanto, a pesquisa aponta que o gosto pessoal ainda é a principal motivação para a leitura, citado por 24% dos entrevistados. Por outro lado, o percentual de pessoas que afirmam não gostar de ler subiu para 29%, superando os que afirmam gostar muito de ler (26%).
A pesquisa também revela que o hábito de presentear livros caiu. Em 2019, 63% dos entrevistados relataram ter ganhado livros como presente, enquanto este número diminuiu para 51% em 2024. Failla observa que as famílias estão dando menos livros de presente e priorizando o entretenimento por meio de telas, o que reflete um distanciamento ainda maior da leitura tradicional.
Além disso, a pesquisa investigou a influência das redes sociais e dos influenciadores digitais nos hábitos de leitura. Apesar do crescente impacto das mídias digitais, apenas 2% dos leitores indicaram que foram motivados a ler um livro por recomendação de influenciadores digitais.
Esses dados destacam o desafio enfrentado pelo Brasil na promoção da leitura e a necessidade de políticas públicas mais eficazes para estimular o hábito de ler entre a população, especialmente entre os mais jovens.