A geração Fast vai se libertar
Em 2007, com apenas 11 anos de idade, eu nunca imaginaria que um dia Matheus Francisco Rodrigues Ribeiro, um moleque magrelo, com dentes de coelho e óculos fundo de garrafa, passaria a ser conhecido como Matheus Barbaço, detentor do maior canal de futebol do Norte, Nordeste e Centro Oeste do país. O que eu também jamais imaginaria é que um dia eu veria meu time jogar uma libertadores da América mais uma vez. Na realidade, no auge dos meus 11 anos, a única coisa que eu queria ver era meu time sair da lama. Apesar de frequentar a Fonte desde os três anos, quando passei a ter consciência do que realmente estava ocorrendo só vi o Bahia cair, até ali.
Forjado na tristeza, foi nesse momento da vida que passei a entender o que era lealdade, fidelidade, paixão, amor… Eu não sabia porque estava ali, não tinha como ser apenas um hobby ou muita vontade de degustar rolete de cana, pipoca com coco e sorvete misturado. Eu tava ali porque meu irmão me levava e ainda bem que ele fazia isso. Após o milagre contra o Fast, fomos juntos para todos os jogos do octogonal final daquela Série C. Gritei, ao lado de 60 mil tricolores, diante do Crac de Goiás, no primeiro jogo do octogonal, que éramos a maior torcida do Brasil. Vencemos por 1×0 com gol de Nonato, meu ídolo de infância, meu herói. Dali em diante, a cada jogo, contra Barras, Nacional, ABC, Vila Nova e cia, foi amadurecendo a ideia de que voltaríamos para a segunda divisão. E voltamos.
Mas, até em momento de alegria teve tragédia. Viver aquele Bahia x Vila Nova foi como um martírio. Eu era obrigado a entender que mesmo tendo motivo para estar feliz, eu não deveria estar tão feliz. Afinal, eram os meus que estavam nos deixando, fazendo a mesma coisa que eu: torcendo, vibrando, vivendo o Bahia. Era como uma âncora presa em nosso pé, que nos puxava para baixo e mostrava a dura realidade. Será que vale a pena se sacrificar tanto por um amor pouco correspondido? Era o que eu queria pra minha vida? Sei lá, aquele moleque de 11 anos ainda não entendia muito bem as coisas, mas já sabia que ir a Fonte Nova não era uma distração, era um compromisso, um laço que se construía na dor.
Jóia da Princesa, Pituaçu, Arena Fonte Nova… não larguei. Estive presente. Chorei voltando para Série A, acreditando em um rei do pop essencialmente baiano. Chorei vivendo uma conquista de título após 10 anos. Já me sentia privilegiado. Já era feliz. Era uma loucura imaginar algo alem de sair da lama. Mas estava me convencendo. Democracia. Queda. Retorno. Conquistas regionais. Mais uma queda e essa, dura. Com o maior orçamento da historia. Com a expectativa lá no alto. Com a minha presença em espírito, mas também em corpo. Foi um trauma viver o rebaixamento do Bahia em Fortaleza. Fiquei sem chão, sem rumo, sem norte. Mas olha tudo que eu já tinha passado. Largar não era nunca uma opção. Vivi intensamente o retorno. Viajei, fui atrás. Chorei vivendo o acesso em Maceió.
Surgiu uma nova esperança. Uma nova era vociferada aos quatro cantos. Também surgiram novas frustrações. Que ano difícil o de 2023. Gerir expectativa não é nada fácil. Eu não tive sabedoria para me controlar. Na verdade, eu tive ansiedade. E, para quem viveu tantas frustrações e viu a esperança trazendo novas oportunidades de enfim ser verdadeiramente feliz, é natural estar ansioso. Mas vencemos. Evitamos o pior. E, novamente, cai em prantos na Fonte Nova. Foi um ano pesado. Superado. Mas com grana, gestão profissional, teriam mais frustrações? Sim. 2024 nos trouxe um misto de sentimentos e, após a queda de rendimento no segundo turno, um medo avassalador de se decepcionar.
E é com esse temor que escrevo esse texto. Mas, puts, nunca estivemos tão perto. Nunca eu, da tal da Geração Fast, que tanto sofreu vestindo essas três cores, estive diante dessa realidade. Não posso esmorecer agora. É a nossa chance. Temos que nos libertar do que nos prendia por tanto tempo e voltar a ter o espírito vencedor que dominou nossos pais, tios, avôs… meu sonho tem que se realizar. Nós viveremos noites de libertadores na Fonte Nova. Nós seremos felizes. Custe o que custar. Merecemos isso. Vamos em busca disso! Jamais esqueça do que te fez ser tricolor. Afinal, ser Bahia é uma dádiva!