Esg no Brasil é redundância
A sigla ESG advém do termo em inglês Environmental, Social and Governance – ou, em português, ASG, referindo-se à Ambiental, Social e Governança. Surge nos EUA, para gerar lucros, diminuir pressão e melhorar a imagem de empresas flagradas em crimes de corrupção ou, outras, em práticas no mínimo imorais, dada a ausência de regulação para cravar a ilegalidade, ao menos quanto ao aspecto de obrigações sociais e ambientais, em países da OCDE, de baixa intervenção do estado e maior liberdade econômica.
No mundo dos investimentos, investimento ESG é aquele que incorpora questões ambientais, sociais e de governança como critérios na análise, indo além das tradicionais métricas econômico-financeiras e, com isso, permitindo uma avaliação das empresas de forma holística. Ou seja, é uma avaliação da consciência coletiva de uma empresa em relação aos fatores sociais e ambientais. Essa forma de pensar e levar o negócio é essencial para manter uma empresa. Os investidores buscam muito mais do que uma organização que ofereça lucros.
Acontece que, ao contrário do que ocorre nos EUA e demais países de mesmo perfil, no Brasil, de grande e pesada mão estatal regulatória, ser ESG nada mais é do que cumprir a Constituição e a lei, ser sustentável, apontar o modelo de negócio para uma equação de soma de propósitos: o econômico, o social e o ambiental. Não é uma opção ou um caminho para lucrar mais e diminuir pressão sociosmbiental. Desde 1972 houve uma guinada sustentável no Mundo, no Brasil tornada dever e base de toda a nação, a partir de 1988 e da norma maior firmada pela constituinte.
Mas, porque somente agora, quarenta anos depois, se fala tanto em sustentabilidade nos negócios e empresas, com a nova roupagem e rótulo ESG? Realidade ou lacração?
Algumas iniciativas são puro marketing, as vezes dão certo e outras tantas errado. “Segunda sem carne”, por exemplo fez mal à grande marcas e não é nada sustentável, pois mostra um desequilíbrio entre social e econômico, com o ambiental. Pior, sem gerar qualquer ganho efetivo a preservação dos ecossistemas. A guerra contra plástico, canudos e produtos testados em animais, por sua vez, gera dividendos de imagem e de lucro, mas, igualmente, pouco resultado prático ESG, pois plástico é reciclável, canudo também, bastando serem adequadamente dispostos, enquanto os integrantes das empresas e usuários de produtos das mesmas estão, inexoravelmente, consumindo, diariamente, todo tipo de produtos testados em animais, principalmente os que salvam vidas, como medicamentos, procedimentos médicos e vacinas. O equilíbrio tem que ser o vetor, jamais o extremismo ou radicalismo, além das ações sistêmicas, engajadas e, notadamente, as mais efetivas e abrangentes.
Portanto, uma sociedade, um estado ou empresa se quiser ser ESG, para além do marketing, com resultados, deve partir de um pilar: exortar a educação ambiental. Pouco se fala e se faz a esse respeito. A sociedade como um todo, as empresas, o ensino formal e informal, a mídia, os órgãos públicos executores e as instituições fiscalizadoras deixam de materializar o dever de promoção da educação ambiental em todos os níveis do ensino no Brasil.
Trata-se de obrigação contida no art. 225, § 1º, VI, combinada com a Lei da Política Nacional de Meio Ambiente (n.º 6938/81), além da regulação específica para a matéria, através da norma que disciplina a Política da Educação Ambiental (n.º 9795/99). A educação ambiental deve estar presente na esfera formal (ensino público e privado), de modo transversal (em todas as disciplinas do currículo) e específico (matéria própria), e também informal (nas empresas, domicílios, organizações sociais, na comunicação, incluindo rádio, jornais, revistas, TV, internet, nos órgãos e instituições públicas, etc).
Não é o licenciamento, nem as avaliações de impacto ambiental, as multas estratosféricas e outras medidas isoladas e pós dano, que irão induzir as pessoas à práticas sustentáveis, que e ajudem no combate a seca, desmatamento, poluição e com a grave questão das mudanças climáticas. Não é demonizar a carne, políticas de gênero, raça, opção sexual. Não são as caras ações de marketing. O ESG de verdade passa, primeiro, pela educação, conscientização, capacitação d difusão dos comportamentos que promovam os avanços sociais, ganhos econômicos e preservação ambiental. Educação: este instrumento fundamental de ESG, para a concreta a manutenção do meio ambiente ecologicamente equilibrado, justiça social, igualdade entre as pessoas e acesso a renda, para as presentes e futuras gerações.
ESG começa com E de educação. Este deve ser o pressuposto. Uma corporação que age sem educar e conscientizar seus membros, jamais será ESG de verdade. Demais disso, é preciso ter planejamento e ações sistemáticas, das boas práticas ambientais, sociais e de governança são mais estáveis. Entre os anos 1990 e 2000, surgiram os primeiros índices socialmente responsáveis. Dessa forma, os critérios ESG passaram a ser considerados para tomar decisão sobre investimentos, além de servirem como incentivo para as empresas melhorarem sua performance de investimentos no longo prazo. ESG é valor antigo, histórico, iniciado a partir da década de setenta. É prática séria e relevante. Por isso não pode ser instrumento manejado por oportunismo, por especialistas de ocasião, por mero marketing, pela tal lacração ou temor do nefasto cancelamento.
No mundo, o ESG veio para corrigir rumos, evitar atritos, diminuir pressão socioambiental e visa potencializar o lucro. No Brasil, é mera redundância ao que já é obrigação constitucional e legal – muitas vezes descumprida ou burlada, diga-se.