Tabu persiste: 70% dos clubes da Série A evitam usar a camisa 24
Estigma ligado ao jogo do bicho mantém número fora dos elencos e expõe resistência histórica do futebol brasileiro à diversidade
Mesmo em 2025, o número 24 continua praticamente banido do futebol brasileiro. Um levantamento com os elencos da Série A revela que 14 dos 20 clubes não possuem nenhum jogador usando a camisa, um comportamento que reforça a permanência de um tabu antigo, silencioso e ainda influente nos bastidores do esporte.
A recusa ao número — associado ao “veado” no jogo do bicho — segue como uma prática informal, mas amplamente disseminada. Entre os seis clubes que utilizam a camisa 24, todos a destinam exclusivamente a goleiros reservas, o que reforça o caráter simbólico da resistência. Em equipes como Corinthians, Flamengo, Atlético-MG, Bahia, Vitória, Santos e Vasco, a numeração simplesmente não aparece nas listas oficiais.
O apagamento não é novo. Em 2021, a seleção brasileira convocou 24 atletas para a Copa América, mas pulou a camisa: Ederson vestiu a 23, e Douglas Luiz recebeu a 25. A decisão gerou críticas e chegou a motivar uma interpelação judicial contra a CBF por reforçar preconceitos.
O debate voltou à tona após a fala homofóbica do técnico Abel Braga, reacendendo discussões sobre a masculinidade no futebol e a dificuldade histórica do esporte em lidar com diversidade. A ausência do número 24 nos elencos é vista por especialistas como um reflexo dessa cultura, que ainda reproduz estereótipos e mantém fronteiras simbólicas dentro e fora dos vestiários.
Enquanto outras ligas tratam a numeração como parte da identidade dos atletas, o Brasil ainda convive com códigos sociais que atravessam gerações e seguem firmes no cotidiano dos clubes. A resistência ao 24, presente em 70% da Série A, é um dos sinais mais claros de que o futebol brasileiro ainda engatinha rumo a um ambiente mais inclusivo.