
Venda de sentenças liga crimes agrários na Bahia e Mato Grosso
Quatro anos após o início da Faroeste, o assassinato do advogado Roberto Zampieri, em Cuiabá, trouxe à tona uma rede de suspeitas que se estende até o STJ

As operações Faroeste, na Bahia, e uma investigação de corrupção judicial em Mato Grosso revelaram elos inesperados entre disputas agrárias e suspeitas de venda de decisões judiciais. Quatro anos após o início da Faroeste, o assassinato do advogado Roberto Zampieri, em Cuiabá, trouxe à tona uma rede de suspeitas que se estende até o Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília. Em ambos os casos, um advogado — Vanderlei Chilante — é apontado como figura central nas ligações entre os envolvidos e, através de sua delação premiada, vêm à tona novas ramificações do escândalo.
Vanderlei Chilante, que atuava como representante de Aníbal Manoel Laurindo desde 2003, detalhou em sua colaboração como ocorriam as negociações de decisões judiciais na Bahia. Aníbal é agora o principal suspeito de mandar matar o advogado Zampieri em Cuiabá, uma execução que teria sido motivada por disputas de terras com um cliente de Zampieri na região de Paranatinga (MT). Segundo a Polícia Civil, uma decisão judicial desfavorável teria levado Aníbal e sua esposa a orquestrar o crime.
O inquérito sobre o assassinato de Zampieri trouxe à luz uma série de mensagens de seu celular, que sugerem pagamentos de propina para um desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT) e vínculos com um lobista que estaria negociando decisões judiciais em gabinetes do STJ. Esse mesmo lobista já é alvo de outra investigação que resultou no afastamento de juízes em Mato Grosso do Sul, reforçando as suspeitas de uma rede de compra de decisões em diferentes estados.
Outro ponto que conecta as operações é a Bom Jesus Agropecuária, empresa de Nelson Vigolo, também cliente de Chilante, e envolvida nas disputas agrárias que originaram a Faroeste. Vigolo e Chilante firmaram delação premiada e, na Bahia, as investigações apontam para pagamentos de até R$ 1 milhão para que um juiz se declarasse suspeito em processos de interesse da Bom Jesus. Chilante, por sua vez, não é considerado suspeito no caso de Mato Grosso, mas responde a processos na Bahia sob acusações de lavagem de dinheiro e corrupção.
A empresa Bom Jesus também enfrenta problemas financeiros, e entrou em recuperação judicial, com uma dívida de R$ 2,6 bilhões. Na ocasião, a empresa de gestão patrimonial Fource, contratada para o processo, viu seus sócios envolvidos em suspeitas de favorecimento judicial. Mensagens de Zampieri apontam para acertos financeiros em que ele relata o pagamento de R$ 200 mil ao filho de um desembargador do TJ-MT, em troca de decisões favoráveis.
Com o avanço das investigações, o Supremo Tribunal Federal (STF) passa a centralizar os casos ligados a Zampieri, sob a relatoria do ministro Cristiano Zanin, enquanto o STJ segue responsável pela Operação Faroeste. Em nota, os sócios da Fource afirmaram que “repudiam avaliações precipitadas com base em mensagens descontextualizadas” e garantem que não foram partes nos processos em questão, reforçando que nunca tiveram contato direto com o filho do desembargador envolvido.
As investigações em ambos os estados prosseguem e revelam camadas complexas de corrupção no setor do agronegócio, que envolvem desde assassinatos até suspeitas de compra de sentenças em tribunais superiores. Os advogados dos envolvidos, inclusive o defensor de Aníbal Manoel Laurindo, alegam que os processos seguem sob sigilo, o que impede comentários adicionais sobre o caso.