Rui Oliveira: ‘Aprovação automática é jogar poeira debaixo do tapete’
Coordenador licenciado da APLB-Sindicato, o professor Rui Oliveira cobra do governo Jerônimo Rodrigues (PT) o enfrentamento às mazelas da educação. Foi a APLB o primeiro ente da sociedade civil a denunciar a portaria que, nas entrelinhas, determina a aprovação em massa de alunos da rede estadual. Após a repercussão, o governador foi a público e disse, entre outras coisas, que a escola que reprovava os alunos era “autoritária”.
“Concordamos com a garantia, o acesso, a permanência e o sucesso escolar. Mas como isso se dá? Não é passando todo mundo. É reforçando quem tem dificuldade. Essa é a questão central. Queremos o acesso, a permanência e o sucesso escolar. não comungamos com pedagogia da reprovação, nem aprovação em massa. tem que encontrar caminhos. Queremos que o aluno que ingresse tenha como ficar e superar as dificuldades. Pode ser no contra turno, com reforço, podem ser oficinas, são diversas atividades para colocar o aluno em um patamar melhor. Aprovar automaticamente é colocar a poeira debaixo do tapete”, afirma, em entrevista ao Se Ligue Bahia.
Oliveira diz ainda que a medida não partiu do governador, mas sim de Adélia Pinheiro, secretária de Educação da Bahia.
“Foi uma medida tomada pela Secretária de Educação [Adélia Pinheiro]. Claro que a secretária é do governador. Essa relação é com a secretaria de educação e o governador depois fez declarações muito ruins. Isso aumentou a crise”.
O espaço para manifestações da Secretaria de Educação segue aberto no Se Ligue Bahia.
Leia a entrevista completa:
SLB Entrevista – Como vocês receberam a portaria da aprovação automática?
Rui Oliveira – A categoria está repudiando a promoção automática. É uma falta de respeito. Não respeita a autonomia da escola, jogando a programação aprovada em 2023 para trás. Isso ganhou uma repercussão muito grande. Tivemos diversas reuniões e estamos aguardando para ver como vai se dar. Estamos fazendo apelo, denunciando no Ministério Público, fizemos tudo que tem que ser feito. A sociedade está no nosso lado.
SLB Entrevista – Depois que o assunto ganhou a imprensa, começaram a circular vídeos de alunos zombando, dizendo que agora não precisa mais estudar. Isso chegou para a APLB?
RO – A gente não pode generalizar. Isso são ações isoladas e não ajuda a resolver a questão. Claro que existem, mas isso não é a centralidade. Os alunos são amigos dos professores, são parceiros e eles têm que lutar para que essa aprovação automática não vingue.
SLB Entrevista – O fato do governador Jerônimo Rodrigues ser professor, assustou vocês na tomada de decisão sobre o tema?
RO – Foi uma medida tomada pela Secretária de Educação [Adélia Pinheiro]. Claro que a secretária é do governador. Essa relação é com a secretaria de educação e o governador depois fez declarações muito ruins. Isso aumentou a crise, ao defender que o aluno preto, pobre da periferia… concordamos com a garantia, o acesso, a permanência e o sucesso escolar. Mas como isso se dá? Não é passando todo mundo. É reforçando quem tem dificuldade. Essa é a questão central. Queremos o acesso, a permanência e o sucesso escolar. não comungamos com pedagogia da reprovação, nem aprovação em massa. tem que encontrar caminhos. Queremos que o aluno que ingresse tenha como ficar e superar as dificuldades. Pode ser no contra turno, com reforço, podem ser oficinas, são diversas atividades para colocar o aluno em um patamar melhor. Aprovar automaticamente é colocar a poeira debaixo do tapete.
SLB Entrevista – O governo Jerônimo já entrou no segundo ano. Qual a avaliação da APLB sobre o desempenho na educação?
RO – Tem melhorado a infraestrutura, com padrão de qualidade. Isso é inegável. Pela pressão da APLB, tem tido concurso público, mas tem muito a fazer. A gente tem que fazer nosso papel, que é apontar soluções, pressionar para ir pelo caminho melhor. O governo é de centro-direita e tem que ter disputa. Tem muita gente interessada que o povo brasileiro não seja educado, não seja alfabetizado. Só se supera desigualdade com educação.
SLB Entrevista – Falando um pouco do piso salarial, tem sido pago pelo Estado e prefeituras?
RO – Olha, 90% das prefeituras não respeitam. Aqui na Bahia é uma vergonha. Na rede estadual paga para quem está no plano de carreiras, mas os aposentados não recebem. Ganhamos o mandado de segurança para pagar e é uma disputa, luta para aprovar a lei e depois para garantir o pagamento da lei. Vamos fazer no dia 13 de março uma paralisação estadual, com todas as cidades, todas os professores das redes municipais e estadual, para cobrar o pagamento do piso salarial.
SLB Entrevista – A Bahia vai para a quarta parcela do pagamento dos precatórios da educação. Vocês ainda têm esperança de que sejam depositados os juros?
RO – Mais uma vez, o governo paga sem o precatório. Fomos a Brasília e estamos aguardando o pagamento. É um absurdo pagar sem o juros. A categoria tem esperança, uma categoria que não pode perder a esperança é a nossa.