Violência dispara no Rio Sena em 2025; morte de jovem autista em operação policial gera revolta
Número de mortes no bairro saltou de 1 para 12 em um ano, segundo Fogo Cruzado; caso Marcus Vinícius expõe denúncias de abusos e racismo estrutural
O bairro do Rio Sena, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, registrou em 2025 um aumento expressivo da violência, especialmente em ações policiais. Dados do Instituto Fogo Cruzado revelam que os tiroteios triplicaram, passando de 3 em 2024 para 9 em 2025, enquanto as mortes saltaram de 1 para 12 no mesmo período — um crescimento de 1100% entre 1º de janeiro e 24 de setembro deste ano.
A escalada da letalidade ganhou contornos ainda mais dramáticos após a morte de Marcus Vinícius Alcântara, de 26 anos, um jovem autista atingido por disparos durante uma operação no bairro, em 22 de setembro. O caso gerou comoção e protestos, com moradores acusando a Polícia Militar de abuso e cobrando justiça.
Caso Marcus Vinícius
Marcus havia saído de casa para buscar os sobrinhos na escola quando foi alvejado. Familiares afirmam que ele usava um cordão de identificação do autismo e correu assustado ao ver policiais se aproximando. A mãe relata que os disparos partiram da guarnição que fazia ronda no local.
A Polícia Militar alegou que havia sido acionada para conter uma troca de tiros entre criminosos e disse ter encontrado Marcus já ferido. O caso segue sob investigação.
A morte do jovem provocou indignação entre os moradores, que organizaram protestos, bloqueando ruas e incendiando objetos em sinal de revolta contra a violência cotidiana no bairro.
Comparativo 2024 x 2025
De acordo com o Fogo Cruzado, o número de mortes no Rio Sena cresceu de 1 para 12 em apenas um ano, com operações policiais concentrando a maioria dos casos. O aumento dos tiroteios também revela um padrão de letalidade associado à atuação do Estado nas áreas periféricas.
Para Dudu Ribeiro, cofundador da Iniciativa Negra e integrante do Observatório de Segurança Pública da Bahia, os números evidenciam a face mais dura do racismo estrutural.
“O que os números de 2024 para cá no Rio Sena revelam é o que temos reforçado todos os dias: os nossos bairros não são violentos, são bairros violentados. Quando um jovem autista é morto dentro de sua comunidade em uma ação policial, isso mostra que o que existe é uma decisão de distribuição de morte enquanto política de Estado”, afirmou.
Segundo ele, a escalada da letalidade policial reforça um ciclo de atuação desigual do Estado: em áreas centrais, a presença pública se traduz em serviços e infraestrutura, enquanto nas periferias é marcada pelo policiamento armado e repressivo.
O especialista em segurança acrescenta que casos como o de Marcus não são isolados, mas parte de uma realidade em que comunidades negras e pobres são mais expostas à violência policial. O episódio, destaca, reabre o debate sobre os modelos de segurança pública na Bahia, especialmente a militarização das ações em territórios vulneráveis.