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Alexandre Galvão 24 de Março, 2025
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Cláudio André: ‘Apoio de prefeito ao governador não é conversão automática de votos’

SLB Entrevista
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Alexandre Galvão 24 de Março, 2025

Embora pareça distante, a disputa eleitoral por 2026 já está a todo vapor. Um dos pontos mais discutidos é a adesão de prefeitos à base do governo estadual, o que nem sempre se traduz em votos para Jerônimo Rodrigues (PT). “A ida do prefeito não significa conversão automática de votos”, pondera o professor de ciência política da Unilab, Cláudio André, em entrevista ao Se Ligue Bahia. Para ele, o eleitor pode não seguir as movimentações de sua liderança local, tornando esse apoio menos decisivo do que parece.

Outro fator que promete esquentar a eleição é a federação entre União Brasil e PP, iniciada na semana passada. Para Cláudio André, essa aliança é um dos ingredientes mais efervescentes da disputa e pode redefinir o cenário político da Bahia e do Brasil.

Além disso, o especialista analisa o embate entre Jerônimo e ACM Neto (União Brasil) e a estratégia do governador para minar a oposição. “O governo quer deixar a oposição instável antes da disputa”, avalia, destacando que o Palácio de Ondina busca antecipar acordos e atrair aliados para enfraquecer o ex-prefeito de Salvador, principal nome oposicionista no estado.

Leia, abaixo, a matéria completa:

SLB Entrevista – As pesquisas eleitorais mais diversas têm mostrado o presidente Lula caindo no conceito da população. Há como reverter essa curva para 2026?
Cláudio André: O que a gente consegue perceber é que houve uma queda na avaliação do governo e na avaliação do presidente. Quando analisamos como a população tem reagido, vemos que não é apenas um segmento, mas uma queda em todos os extratos. Estamos diante de um elemento conjuntural, que envolve a economia e temas mais estruturais, como a segurança pública. Esperava-se que o governo tivesse mais propostas nessa área. Há condição de reverter. No Brasil, o sistema político favorece a reeleição; a candidatura tem esse caráter publicitário. Agora, obviamente, o governo precisa de um freio de arrumação, que já começou a ser feito com medidas drásticas. Tivemos mudanças na comunicação, com Sidônio Palmeira, troca na articulação política, que é o motor. A chegada de Gleisi tem esse elemento de trazer alguém de muita confiança do presidente, para repactuar. Envolve não só a relação com o Congresso, mas com as pastas ministeriais, que estão trabalhando de forma solta. A ida de Padilha para a Saúde é uma prova também. É sobre como a Casa Civil vai se organizar. É um cenário muito desafiador, não é confortável, não há como cravar que vai reverter, mas várias medidas estão sendo tomadas com esse propósito.

SLB Entrevista – A grande novidade política da semana foi a federação UB e PP. Como isso impacta nacionalmente e na Bahia?
CA: A gente percebeu que o UB se colocou como um grande player, isso envolveu articulação de Neto, que em 2022 entrou com um grande partido, que era mais municipalista, parlamentar, de centro, dialogando com o governo, com alguns indicados. Alguns setores entraram no governo Lula. Esse modelo do UB, que foi o PSL e DEM, levou o partido a se tornar um grande player. Agora, vemos que o UB quer dar um salto, reunindo-se a um partido que é municipalista, está mais inclinado à direita, mas é de centro também, dialoga com várias forças. O PP fez parte do PT nos últimos 15 anos. O interessante neste caso é que a movimentação para criar essa federação significa uma aliança estratégica para que eles enfrentem sua agenda de unificar ações e possam caminhar juntos. No mapeamento dos estados, já há essa dobradinha em muitos lugares.Há duas movimentações. Isso é um reflexo de como se pensa em 2026. Uma federação desse tamanho terá direito a muita verba, vai atuar junto, e isso levará a um abatimento na atuação congressual. Isso nos levará a um cenário em que essa federação dominará a Câmara e o Senado. Outra movimentação nesse caso é como ficarão os estados. Esse é o grande salto, como vão caminhar. Na Bahia, é algo muito inovador. Tínhamos o PP com os petistas, depois foram para o UB formalmente. Há um movimento para que adiram a outro governo petista com Jerônimo, mas isso causa grande embaraço para essa união, que interessa ao UB. O PP tem mais de 40 prefeitos, deputados estaduais, tempo de TV, é um partido muito estratégico. Vamos ter tensionamentos. Essa federação é uma grande novidade, de olho em 2026. O maior desafio é como eles vão se encaixar no cenário dos estados.

SLB Entrevista – O senhor vê possibilidade de o PP estadual, de alguma forma, ficar com Jerônimo?
CA: Neste momento, vejo que isso pode acontecer em um grau de informalidade. Com a federação, a tendência é que o PP sofra um processo de esvaziamento, componha uma nova estratégia no grupo de oposição e tenha migração de deputados com mandato. Vai depender de como esse arranjo será feito. Isso será testado nas eleições de 2026, analisando como ficarão os prefeitos. Um prefeito pode caminhar com Cajado, mas apoiar Jerônimo. Essa é a grande questão colocada neste momento. Essa reconfiguração dialoga com as táticas eleitorais, a relação com o bolsonarismo e com Tarcísio de Freitas, como se fosse uma estratégia de antecipação de cenário.

SLB Entrevista – Jerônimo tem adotado uma estratégia de abraçar lideranças que estiveram um dia com ACM Neto. Qual o impacto disso para 2026?
CA: Primeiro, tivemos uma eleição em que imagino que o governador esperava um resultado maior para as grandes cidades, como Ilhéus, Feira, Vitória da Conquista. Em Salvador, Bruno Reis atingiu uma marca acima das eleições de 2016 e 2020. Do ponto de vista da geografia dos votos, o objetivo do governo é demonstrar que, diante de um impasse sobre se o ex-prefeito será candidato em 2026, a articulação do Palácio de Ondina quer dar a sensação de esvaziamento da oposição. Parece-me que o governo partiu para a seguinte estratégia: apresentar um mapeamento que coloque a oposição em instabilidade. Quem chega primeiro bebe água limpa. O governo busca estabelecer adesões agora, de forma diferenciada e, ao mesmo tempo, trabalha para reverter desgastes e melhorar a popularidade. Defende algumas pautas de impacto direto, como segurança, educação, infraestrutura e empregos. Parece-me que a estratégia foi não esperar que o governo fique refém da popularidade. Diante da fragilidade da oposição, partiu para conversar com lideranças. Há um fator institucional: para quem está na ponta, ter relação com um deputado federal ou com o governador significa atrair investimentos. Do ponto de vista da velocidade da eleição e do cenário político, para quem está começando o mandato, foi uma movimentação pragmática de sentar com o governo e fechar parceria. Os prefeitos já sentiram que é melhor caminhar agora para ter vantagens nas políticas públicas.

SLB Entrevista – Um deputado disse: ‘o prefeito vai e a população não vai’. Isso acontece?
CA: É uma meia verdade. A ida de uma liderança, de um prefeito, não significa automaticamente uma conversão de votos. É uma construção política. No entanto, há prefeitos que foram eleitos e caminham com o governador e têm uma condição política de oferecer uma quantidade significativa de votos. Mas nunca será uma conversão automática. É um processo.

SLB Entrevista – Por outro lado, ACM Neto tem se mantido silente sobre essa estratégia. É o melhor caminho?
CA: Esse cenário representa o que conversamos no bloco anterior. Há um grau de incerteza real sobre o ex-prefeito se colocar como candidato do grupo. Ele ainda calcula, avalia, e isso decorre do cenário nacional. A direita não tem uma candidatura forte. Essa candidatura se unificará ao bolsonarismo? A retomada do diálogo do PL baiano com o UB tem esse intuito. Essa estratégia silenciosa, defensiva, por parte de Neto, representa a incerteza dele em se colocar numa disputa mais aberta. Parece-me que a articulação política de Neto, no grupo com prefeitos e lideranças locais derrotadas em 2022 e 2024, falhou. Eu imaginava que ele tivesse uma relação mais estratégica em alguns locais, mas vejo que ele está se posicionando para dialogar com banda A e banda B. Ele se prepara para dialogar até com quem não o apoiou em 2022. Sua posição como candidato natural é evidente, inquestionável. Não há disputa sobre se será candidato ou não. O que existe é uma revisão, à espera de um cenário mais concreto: se a popularidade de Lula e Jerônimo piorará, se as pesquisas da Quaest ou outros institutos apontaram algo crítico. O governo carece de mais força na opinião pública. Neto faz esse cálculo. Ele tem dado sinais de que não quer entrar para perder.

SLB Entrevista – O senhor acredita na chapa puro-sangue do PT?
CA: É muito difícil, muito pesada do ponto de vista do equilíbrio com os aliados. É o oposto do que aconteceu em 2006, quando Wagner venceu pela primeira vez com um senador da chapa, João Durval, o MDB na vice e o governador do PT. Entendo que isso passa pela ascensão de Rui Costa, que tem uma prevalência. Ele esperou 2022 e quer um mandato de oito anos, que é muito estável. Outra questão envolve o cenário nacional. Lula quer dois senadores do PT? Isso exigirá compensação na Bahia. Vai dar um cargo importante para o MDB? Rui será senador e voltará ao governo? Neste momento, uma chapa de menor equilíbrio político traria tensão que só pode ser resolvida em nível nacional. Essa é a grande questão.