Bolsonaro sabia que não havia fraude e pressionou para adiar relatório sobre as urnas, diz ex-comandante da FAB

O ex-comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, declarou nesta quarta-feira (21), a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi informado de que não havia indícios de fraude nas eleições e mesmo assim tentou adiar a divulgação de um relatório que atestava a confiabilidade das urnas eletrônicas.

O depoimento foi realizado durante audiência que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado após a derrota nas eleições de 2022. Segundo Baptista Júnior, a informação sobre a lisura do processo eleitoral foi repassada a Bolsonaro pelo então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira. 

“Sim, [Bolsonaro foi informado disso] através do ministro da Defesa. Além de reuniões que eu falei, o ministro da Defesa que despachava sobre esse assunto. Eu ouvi que sim [pressionou pelo adiamento da divulgação], certamente outras testemunhas poderão dar isso com mais precisão”, disse o ex-comandante. 

Durante a oitiva, o militar relatou ainda que participou de uma reunião no Palácio da Alvorada, após o segundo turno das eleições, na qual foram discutidas alternativas para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

Entre as possibilidades debatidas estavam a decretação de Estado de Defesa, Estado de Sítio e a atuação das Forças Armadas por meio da Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

“Com base em tudo o que estava acontecendo, perguntei: ‘O documento prevê a não assunção no dia 1º de janeiro do presidente eleito [Lula]?’. Ele, [Paulo Sérgio Nogueira], disse: ‘Sim’. Eu disse que não aceitava nem receber esse documento. Me levantei e fui embora”, declarou Baptista Júnior. 

Baptista Júnior revelou que, na ocasião, o então comandante do Exército, general Freire Gomes, chegou a afirmar que prenderia Bolsonaro caso a tentativa de ruptura institucional fosse adiante. Ainda segundo ele, o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, teria manifestado apoio à trama, colocando as tropas da Marinha à disposição.